Friday, September 01, 2006

CARTA A PAPAI NOEL

Papai Noel, o Natal está chegando e venho lhe pedir o meu presente. Sabe seu Noel, estou me lembrando de um outro Natal, já faz muito tempo, eu era ainda uma criança. Naquele ano eu lhe pedi um presente muito especial, queria uma bola de futebol, mas não era uma bolinha qualquer, daquelas de borracha meio sem graça que doía o pé quando a chutava, era uma bola de capotão. Bola de capotão era coisa de príncipe, ser o dono de uma bola de capotão era ser o mais importante do grupo, todos queriam ser amigos do dono da bola. Ele podia ser até o dono do time! Perto de casa tinha um campinho onde a gente jogava futebol todas as tardes. Pois é, ali seria o meu reino. Hoje o campinho já não existe, lá tem ruas e casas. O que fazer, dizem que o mundo deve ser assim.
Já pensou como seriam os comentários quando soubessem que eu era o dono de uma bola de capotão profissional? Que importava saber quem era o presidente da república ou o prefeito, importava sim conhecer o dono da bola.
Pois é seu Noel, o Natal estava chegando e eu sonhava com a minha bola e você era a minha esperança. Presente era só no Natal, e um só. Hoje ganha-se muitos presentes, isto é, alguns ganham, outros não ganham nada. Porque isto acontece? Você sabe, não é Papai Noel? Nós é que fingimos não saber, não é mesmo?
Naquela noite de Natal meu coração palpitava, a ansiedade era tanta que transformava cada minuto em eternidade. Coloquei meu único par de sapatos embaixo da cama, era ali que você deixava meu presente, sobre os meus sapatos, lembra-se? Quando acordei, num salto agarrei meu tesouro e senti a maior felicidade que uma criança pode sentir. Eu acho que a gente deveria nascer adulto e depois ficar criança. Passamos a vida toda buscando a felicidade, e à medida que tempo passa parece que ela fica mais distante e quando se é criança encontra-se a plena felicidade em uma bola!
Papai Noel, eu sei que você pode, vai buscar aquela minha felicidade lá longe, no meu passado. É esse o presente que quero. Mas não é para mim não, quero que você distribua aquela minha felicidade a todas as pessoas que conheço e também àquelas que não conheço, aos meus amigos sinceros e aos outros também, e se os tiver, aos inimigos, principalmente. Ah, Papai Noel, é muito importante que você leve um pedaço, muito grande mesmo, para as crianças, para todas elas, as abandonadas, as exploradas, as de rua, as doentes, e para todas aquelas que são carentes de amor. Sabe porque quero distribuir aquela minha felicidade? É porque ela foi tão intensa que até hoje, muito tempo depois, ainda sinto seus ecos, e não quero que ela seja só minha, quero que todos a tenham também.
Obrigado Papai Noel.