Wednesday, November 24, 2010

Monte Mor de Antanho - Causos - 12

O VELORIO

João do grupo era mais conhecido do que notícia ruim. Nem seria necessário dizer o porquê, trabalhava no único grupo escolar da cidade. Embora não fosse de muito falar, era cidadão honesto, amigo de todo mundo e amante de uma boa pescaria.

Certo domingo, logo de manhã, bateram à porta de sua casa. Era compadre Carlito, que ao vê-lo, foi dizendo:

-Ué compadre, mecê não morreu?

-Acho que não cumpadre, a num sê que foi agorinha mermo e eu ainda não dei conta do acontecido.

Carlito continuou:

-Comadre nhana do Zeca foi cedinho avisá lá em casa que mecê tinha partido dessa para melhor. Eu inté vinha pensando no caminho que ia vê mecê sozinho, deitadinho no caxão! Matutei muito cumé que comadre Maria, muié inda nova, ia se virá pá arresorvê seus pobremas sem o cumpadre! Mai num faiz mar, fica pra outra veiz. Inté cumpadre.

-Inté, - respondeu João.

Alguns minutos depois chega o Chicão. Ao ver João vai logo dizendo:

-Mecê ta vivo?

Ao que João respondeu:

-Pois é Chicão resorvi num morrê hoje, fiquei com medo e deixei potro dia.

-Foi bão assim cumpadre. Até vinha cismando no caminho que se mecê tivesse morrido quem ia sê meu cumpanheiro de pescaria no poção do Batata? Inda mais agora que tá dano muito lambari lá na curva do poço.

-Num foi dessa veis, disse João.

-Intão, já que mecê não bateu as botas, tô indo imbora Já tá quase na hora do armoço.. Estimo melhora pô cumpadre.

Passados uns quinze minutos, alguém grita lá fora:

-Nhá Maria!

Maria abre a porta e Joaquina do Antenor, conhecida como Quina, com as duas mãos ocupadas e os olhos marejados de lágrimas aproxima-se dizendo:

-Dá um abraço Maria, pruquê to cas mão ocupada. Fazê o quê, pá morrê basta ta vivo.

-Entre nha Quina, disse Maria.

A sala estava arrumada como de costume. Então Quina disse:

-Ué, onde tá o caxão?

João, lá da cozinha responde:

-Num chegô inda nhá Quina. Sente pá esperá.

Quina amarelou-se toda, engoliu seco e falou:

-Maria de Deus, o que tá acontecendo?

-Que eu sei num ta’contecendo nada, nóis é que tamo sustado co’esse negócio de que João morreu.

-Mai tá o maior zum-zum de que ele morreu de morte morrida. De verdade mermo! Inté já marcaram a hora do interro! Aí fiquei matutano que a casa tava cheia de gente e mecê muito’cupada rodeano o caxão e intão nem fiz armoço pá podê fazê uns bolinho de chuva e esse bule de café pá mecê servi no velório.

-Num sei de onde o pessoar inventou isso nha Quina. João andô de buxo virado e inté insaiou, mai por’inquanto num morreu.

-Maria do céu, que qué isso? Mai foi mió assim, num é mermo Maria?

-É Quina, num quero nem pensá.

-Bão, já que João ta pronto p’otra tô indo imbora. Vô levá o café e os bolinho pa criançada, pruquê eles queria cumê e eu falei: - jeito nenhum! Isso é pô velório de João da cumadre Maria.

-Inté cumadre.

Minutos depois, uma cartolina pregado na porta:

“Num morri hoje, deixei potro dia”.

Assinado: João

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