Monte Mor de Antanho - Causos - 10
A PAINEIRA
De indescritível beleza, aquela paineira foi um dos meus grandes amores de infância. Seu tronco era de um enorme diâmetro. Baixo, não atingia três metros de altura quando nasciam os grandiosos galhos serpenteando pelos ares e formando uma enorme copa que cobria largo espaço. Um deles destacava-se pela sua magnitude. Nasceu inclinado para a terra como a agradecer a maternidade para depois, generosamente, dar glórias aos céus. Quando florida, era uma enorme e colorida taça coberta por magníficas e suaves pétalas avermelhadas a oferecer seu doce néctar às infindáveis espécies de insetos enquanto muitas centenas de multicores e irrequietos colibris, carinhosamente, em amorosos beijos, sugavam suas delícias. Era uma enorme orquestra de sons e cores premiando a natureza com o brilho de uma melodiosa e primaveril sinfonia.
Finda a estação das flores o gigante ramalhete transformava-se num conjunto de centenas de pingentes verdejantes, cobrindo toda a copa, produto dos amores da primavera. Carinhosamente, como uma mãe que aninha em seu colo suas crias, a fantástica árvore alimentava seus frutos para que crescessem belos e formosos enquanto, ora a brisa, ora o forte vento cantavam deliciosas canções de ninar.
Quando as primeiras folhas começavam a receber o tom amarelado do outono, ela se cobria de branco como uma noiva apaixonada a espera do seu amado para lhe aquecer com o calor dos flocos de algodão que brotavam de seus frutos.
Adormecia durante o inverno, mesmo assim continuava a dar abrigo a inúmeras aves que ali pousavam ou se preparavam para construir seus ninhos.
Um dia o senhor progresso chegou trazendo seu machado. Findou-se a sinfonia. O mundo ficou mais triste. Chorei.
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